sozinhos.
me lembro daquela noite em que uma banda de rock ensaiava, num quartinho fechado, grande calor. um calor humano, um calor sexual, um calor amedrontado. goles de cerveja, entre outras coisas, embriagues. eu te olhava sorrindo, eu te olhava olhando, cantando, suado, manipulado, adorando. naquela noite saimos juntos daquele lugar, eu dirigia meu carro, você me dizia o quanto eu era linda, eu me perdi em são paulo, mas você me achou. me levou pra sua casa, me beijou, tirou minha roupa, fez amor comigo devagar. dormi ao seu lado, sentindo sua respiração em meu rosto, cansado, causado, suado, molhado. pela manhã, toquei as cordas do violão, você fez o mesmo pra mim. tomei um banho, fizemos amor. desci as escadas, entrei em meu carro e parti. parti pra sempre. ali eu nunca mais voltara novamente. ali eu nunca estive. aquele eu nunca tinha visto antes. louca. varrida. ensandecida.temerária. voltei a rotina. parei de me lembrar. voltei ao passado. consertei o futuro. me casei. fui mãe mais uma vez. me escondi. adormeci. conheci no velho café um ditado: "ame a si próprio". refleti. escrevi numa folha em branco palavras egocêntricas de mão. viajei. construi. desenvolvi. logo em seguida me veio o dia. acordei. e logo eu estava ali. num mesmo lugar.
sozinhos.
